6 de abril de 2009

Inteligência competitiva: antecipar ou reagir?

Muito tem sido dito sobre as causas da crise que vem assolando o mundo desde o fim de 2008. Políticos culpam-se mutuamente pela bagunça, citando a falta de regulação. Financistas culpam os perdulários pseudodonos de imóveis americanos. Consumidores culpam os gananciosos executivos donos de empresas. E os meios de comunicação culpam a todos. Não queremos achar um culpado, mas pensar em como se poderia ter antecipado esta situação. Será que um sistema de inteligência competitiva (IC), gerando análises financeiras robustas e alertas antecipados não poderia ter indicado que a crise aconteceria?

Grandes empresas brasileiras de diversos setores, inclusive financeiro, poderiam ter feito uso em maior escala de IC para gerar cenários que levassem seus executivos a antecipar a chegada da crise. Não estamos sugerindo que não tivessem mantido um olhar atento aos mercados, pois temos certeza que grandes empresas mantêm um exército de analistas, triando imensas quantidades de informações, para gerar análises e tendências. No Brasil, a crise gira em torno de quatro pilares: crédito, câmbio, inflação e juros.
Como dizem que Deus é brasileiro, quase não há instituições financeiras brasileiras no foco da crise, como acontece em outros paises na Europa e na Ásia. Mas será que essas empresas possuíam um sistema de alertas antecipados fornecendo sólidos indicadores que apontassem a hora e a gravidade da crise? Que apontassem falhas e, principalmente, sugestões do que fazer?
Em setembro de 2008, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicava que a Europa estava próxima a uma recessão, em função da retração dos mercados imobiliários e do encarecimento das matérias-primas que pesavam sobre o crescimento mundial, além da desaceleração econômica que se daria acentuadamente na zona do euro.
Apontavam o contrário para o mercado americano, dizendo que o crescimento do segundo trimestre fora muito mais forte que os 3,3% previstos, levando a OCDE a amenizar seu cenário e a prever mais 1,8% de crescimento. Jorgen Elmeskov (OCDE), destacou, em entrevista à BBC, que a atividade sofreria uma leve estagnação no final de 2008, com possibilidades remotas de desemprego.

Os principais indicadores econômicos mundiais mostram que as análises, infelizmente, não estavam totalmente corretas. O baque na economia norte-americana aconteceu com muito mais criticidade e o reflexo no mundo é visível hoje. O mesmo aconteceu com as empresas brasileiras com relação aos seus investimentos e planos para 2009. A Ford, no Brasil, vendeu automóveis financiados em até 84 meses a taxas de juros praticamente inexequíveis atualmente. Empresas demitem em massa, fruto da não percepção e antecipação às mudanças.

Será tarde para tomar uma ação decisiva? Isso depende da definição de tarde. Havia abundância de avisos prévios do que se passava nos mercados de crédito e que poderiam ter sido encontrados olhando-se o comportamento dos empréstimos interbancários. Mas não basta encontrar um indicador de alerta antecipado e reconhecer a sua importância. A IC, que gera estes alertas, deve comparar, analisar e considerar diversos aspectos inerentes ao negócio de cada empresa e ligá-los a uma decisão ou plano de ação, recomendando o que deve ser feito. Portanto, não se olhava para a floresta e sim para as árvores. Certamente, a busca desses sinais, por vezes fracos, teria permitido ao governo fortalecer os sistemas bancários, às empresas a melhorarem seus processos produtivos, ou, pelo menos, garantir medidas preventivas com certa antecipação e não apenas reagir, como aconteceu.
Este é um típico caso em que usar IC, minimizaria riscos graves como os que esta crise vem causando. Empresas que crescem e prosperam têm usado de inteligência sistematicamente, para evitar estar ao sabor de crises, tsunâmis e até mesmo ondinhas e marolas. Evitar o quadro atual de demissões talvez não fosse possível, mas minimizá-lo, antecipando ações paliativas por conta de saber que uma crise viria e qual seu grau de extensão seria totalmente possível. Será que as empresas não se valem de IC para tomar decisões? Não acreditamos nisso. Com certeza, foi a relativa tranquilidade que a floresta de negócios apresentava que as fez não olhar cuidadosamente seus alertas de inteligência, que municia os executivos a enxergar questões de relevância estratégica, para antecipar ameaças.

Temos certeza que as empresas, a partir de agora, vão gritar: Épocas de crise podem ser superadas com inteligência!

Eduardo Lapa e Elisabeth Gomes - Jornal do Brasil.

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