27 de outubro de 2009

ARTES PLÁSTICAS - Patrimônio na sala de estar!

Incêndio que destruiu obras de Hélio Oiticica volta o foco para acervos de artistas catarinenses!

O incêndio que destruiu quase 90% das obras de Hélio Oiticica guardadas em casa pelo irmão Cesar, na semana passada, no Rio de Janeiro, abriu um debate sobre conservação de acervos deixados por artistas que já morreram.
Em Santa Catarina, expoentes como Hassis, Schwanke, Meyer Filho e Willy Zumblick têm seus trabalhos sob os cuidados das famílias, que, com esforço e muita dificuldade, tentam mantê-los a salvo do tempo e de acidentes como o registrado no último final de semana na casa de Oiticica.
Se dependesse de ações governamentais, provavelmente, boa parte dos trabalhos estariam sob risco. Mas por empreendedorismo das famílias em preservar as obras, as futuras gerações poderão conhecer parte da história das artes plásticas de Santa Catarina.
Quando Hassis morreu, em 2001, parentes do artista viram-se diante de um dilema. Doar as obras ao governo e correr o risco de vê-las se perder ao longo do tempo ou enfrentar o desafio de criar uma fundação que fosse um espaço de exposição permanente.
- Optamos pela fundação para salvaguardar, disponibilizar e conservar o acervo para disseminar a arte - diz Leila Hassis, filha do artista, que administra a Fundação Hassis, localizada no bairro Itaguaçu ,em Florianópolis.
Mesmo assim, iniciativas particulares que resultaram em fundações e institutos, como as que preservam os nomes desses quatro artistas, necessitam de investimentos. E rápido.
O conjunto de obras de Hassis, é uma rica fonte iconográfica que conta a história das artes plásticas de Santa Catarina partir de 1940. Nesse caso, o modelo aplicado pode ser considerado um exemplo de preservação, mas não quer dizer que não precise ampliar a captação de recursos.
- Ele não pintava apenas em telas. Tem obras em caixas de papelão, verdadeiras obras-primas em plástico - explica Leila, lembrando que as pinturas e desenhos em papel requerem um cuidado especial, pois, em função da umidade, desenvolvem fungos.
Conservação das obras exige trabalho minucioso - Sempre que os trabalhos voltam de alguma exposição são retirados logo da moldura e do vidro para não corrermos riscos. Mesmo assim eles precisam de cuidados especiais, embora nosso espaço aqui tenhas todas as condições necessárias para evitar estragos, como climatização e desumidificador - observa.
A Fundação, localizada no andar superior do Museu Hassis, casa em que o artista morou e criou boa parte de suas obras, já realizou desde a sua criação 80 projetos de extensão, inúmeras exposições com obras do acervo e com artistas contemporâneos, além de trabalhos na área de arte-educação.
Apesar da casa que abriga o acervo ter sido toda reformada, a tragédia com a obra de Hélio Oiticica deixou a família em alerta.
- Eu até dei uma olhada em tudo com mais atenção. Não tem como não ficar preocupada, pois além de não termos seguro, não há dinheiro que cubra uma perda assim - diz Leila.
Com uma coleção formada por três mil obras (entre pinturas e desenhos), 15 mil documentos, 8 mil fotos, 360 filmes e uma biblioteca de mais quatro títulos com tudo catalogado e disponível ao público, a Fundação Hassis trabalha agora na digitalização de todo o material para facilitar a consulta e divulgação da obra.
Para dar conta de seus custos, a Fundação Hassis recorre a ações como a adoção de salas por empresas privadas, recursos de editais culturais e leis de incentivo à cultura.


Por Jaqueline Iensen.

Diário Catarinense, 24 out. 2009, Caderno Variedades - p. 4

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